domingo, 31 de outubro de 2010

Abril...


Assaltam-me o pensamento
E revoltam-se as entranhas
Só de ouvir passar este vento
Que sopra desilusões tamanhas!

Abril foi um sonho desejado.
Percorri ruas e chorei
De emoção!
Era jovem e cheia de sonhos.
Percorri e amei,
Palpitava-me o coração!

Agora, face aos anos passados,
Quase me apetece desejar
Outro Oliveira Salazar!
Depois destes anos passados
Vive-se sem saber o amanhã!
Acreditou-se na democracia,
Na outra face que iluminava
O povo de Portugal!
Hoje vivemos da nostalgia,
Do sonho que iluminava
E dava as mãos por igual!

O pobre será sempre amordaçado
Nestes caminhos enganosos!
O pobre será cada vez mais abandonado
Porque lhe roubaram o sonho de viver
Deram-lhe sonhos dolorosos!
Amordaçaram-lhe o direito a viver!

Passados anos, trinta e cinco…
Tantos, que já não sei quantos…
Vivemos sem o chá das cinco
E morremos uns tanto quantos!

Roubaram-nos a voz,
Amordaçaram a vida,
E mesmo à beira da foz
Se grita a sina incumprida!

Por este país onde a fleuma cresce,
O desinteresse também floresce
E ninguém sabe como fazer valer
O direito de saber combater
A fome e a dor amortalhada,
A angústia amarfanhada
No coração a sofrer,
Sem esperança de viver
E fortalecer o sentido da vida,
Já por si tão sofrida
Sem outros golpes desleais,
E tão mortais.

O vinte e cinco de Abril era
A chama que se abria e despertava
Outras Primaveras!
Já foi, é passado, é tempo que urge renascer,
Que quer cantar bem alto, o direito à vida.
Que quer dizer não à corrupção,
Que quer gritar bem alto e em desespero:
- Abaixo a desagregação social,
Abaixo a fragmentação humana!
O Homem vem com direito igual
E todo Ele quer sentir a chama
Do verdadeiro Amor,
Da verdadeira chama
Que tanto proclama
Até ao suspiro do sol-pôr.

Berta Quental Prata




Ao ouvir as notícias e as canções de Abril, vivi de alguma forma esse momento de esperança e agora de desilusão. Senti a marcha do tempo, dos passos, da música, a voz que então se gritava: o povo unido jamais será vencido. Ainda me lembro deste som me percorrer o corpo, as veias, a vida, ainda hoje o sinto como se afirmando. O povo é quem mais ordena, quando o povo foi sempre explorado e será sempre a chama acesa dos políticos corruptos e dos economistas bem lançados, na meta das suas vitórias e dos seus lucros. Sempre foi e será esquecido. O vento soprou-lhe que era a sua hora, mas essa já se foi embora há muito. Este mundo é dos corruptos, dos homens que querem singrar à custa dos que não querem chorar mas que choram, ainda que as lágrimas escondidas, não se soltem como já se costumavam. Quando a dor humana cresce, o choro fica amarfanhado, enterrado dentro do próprio invólucro, quase esquecido da vida. Os outros julgam que vão crescendo, trilhando e abrindo as portas da alta sociedade e, por isso, essa será a sua eterna prisão. Dizer mais para quê?! É esta a vida, é neste momento que se escolhe o que fazer do Bem que nos avassala a Alma todos os dias. O que fazer? Dar o que temos para dar e sermos felizes com o que vamos humildemente alcançando. Por isso aprendi a escolher os meus Amigos, os que lutam, os que choram, os que são capazes de criar raízes e dar esperança para que todos tenham direito a sonhar. Os que ralham, com delicadeza, os que sabem chamar à atenção com um gesto amigo, os que crescem lado a lado com o outro ser irmão.
Um abraço Amigo
2009

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