quinta-feira, 17 de março de 2016

Notei quando me chamavam, acariciando o meu rosto, fazendo-me respirar num estado de hipotensão. Na inconsciência de ser, a paz envolvia-me, uma santa paz, um momento único.
“Acorde, respire fundo, tussa!...” A voz repetia com carinho, uma e outra vez, em espaços de momentos, provavelmente curtos. Repercutia-se no cérebro, despertava para a vida.
Despertar ou não?!
Ao pensamento inconsciente, a voz vinha de longe, porque o estado de espírito era tão salutar, tão em paz, que despertar para a realidade não era um chamamento assim tão plausível.
É assim o efeito de uma anestesia geral. Veio-me à cabeça a vontade de me deixar ir, era tão fácil! Mesmo fácil! Lembrava-me de pessoas que entretanto já partiram, e senti uma certa liberdade existencial, o direito de escolha, o direito de não sentir a dor. Era como se os sentisse ao meu lado, orientando-me, também eles pedindo para respirar e tossir, acordando-me para a realidade. Caso estranho.
Tenho andado triste, calma demais, …
Concluo, que o Homem é um ser insatisfeito e egoísta. Choramos os que partem, porque eles nos fazem falta, mas quem vai, deve sentir essa liberdade de se reencontrar com outra dimensão mais profunda.
Muitos relatos haverão, muito mais profundos do que este. Era bom que cada um, de algum modo, nos mostrasse esse estado de letargia, como o sentiu, como o viveu.
Como sempre, igual a mim própria. Não resisto.
(15/12/15)


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