Entre o Cá e o Lá…
É costume utilizar-se esta ideia em autores da
Literatura Portuguesa: Bocage, Camões, Teixeira de Pascoaes, Fernando Pessoa,
entre outros, onde o Cá representa os dilemas da Terra e o Lá, a busca do sonho
e da felicidade, a incógnita do que está para além da vida.
Não é preciso ir tão longe. A dor de Alma, as
problemáticas sociais, a vida, a dor de sentir é uma característica do ser humano, sobretudo no contexto sociocultural,
político e económico em que vivemos, onde a pessoa é esquecida a favor de
entidades que desconhecemos, rotuladas pela abstração total – o número.
A Terra é uma boa Escola de aprendizagens e de
crescimento, uma fonte que jorra múltiplas experiências, nem sempre de prazer.
Sem Professores não há Esperança, não há
sonhos, não há verdade e transparência. A Escola Pública precisa de ser
dignificada, não pelos Professores, que estão sobrecarregados de tarefas,
muitos já sem forças, mas pela tutela, pelos alunos que a frequentam e pelos
Pais que a Ela recorrem. Quando se fala em redução da classe docente, está em
causa o desemprego para muitos, mas mais grave do que isso, serão as turmas de
30 ou mais alunos e, tal como já referi tantas vezes, é muito grave, tendo em
conta o contexto socioeconómico que vivemos. É hora de refletirmos sobre o
muito que se diz, sem se ter uma consciência real do que se fala.
O governo é uma turma indisciplinada, é
um jogo de vaidades, …
Imaginem um professor a liderar esta
turma. Ponderando a avaliação, tendo em conta os critérios de avaliação do
segundo e terceiros ciclos, considerando valores: assiduidade, trabalho de
casa, comportamento/postura, honestidade, transparência, a nota a atribuir
seria de 1; considerando conhecimentos (tendo em conta que os mesmos abrangem a
escolha de parceiros de governação e os próprios conhecimentos científicos da
área política) a avaliação atribuída seria de 2. O total da avaliação seria 2,
nota negativa. Imaginem um professor a liderar esta turma indisciplinada no
ensino secundário, onde não são tidos em consideração os valores, mas os
conhecimentos científicos. Tendo em conta que os elementos desta turma dizem e
desdizem, não sabem o que dizem, não ouvem ninguém, os 25% da oralidade teria
de ser zero: não souberam escutar e, por isso, não souberam responder às
questões formuladas e às exigências de um bem-estar social. Quanto aos
conhecimentos científicos, tendo em conta que valem 75%, o cuidado da escrita,
a falta de apetências para estudar e compreenderem o país é praticamente nula.
A avaliação terá de ser, mais uma vez, no caso do ensino secundário, tendo em
conta a turma de registo, de 7 valores, depois de uma ou duas noites de
desassossego.
Passados tantos anos e perante tanta ingratidão e
falta de respeito da Tutela, do Mec, concluo que lutei com coragem e dedicação
por todos aqueles que hoje não me consideram Pessoa, que me rotulam por um
número, apenas mais um número, “um zero à esquerda ”-um horário zero, como se o
mundo pelo que lutei toda a vida desabasse a meus pés! Lutei pelo futuro do meu
País e pelos meus ideais, tal soldado em terra estranha e desconhecida,
perdendo a vida e agora querem fazer-me desaparecer! Desconsiderei todos
aqueles que me são próximos e que estão comigo todos os dias, na saúde e na
doença, os meus queridos filhos, a família que me ama pela Pessoa que sou,
alguém que vive entre o Cá e o Lá – Família e Ensino e que nunca desiste do
sonho em que sempre acreditou – Lutar por um mundo melhor, tal como a criança
pinta as cores do Arco-íris.
Nos últimos tempos tem-se criado um abismo social ao qual abrimos portas, porque
compactuamos. Como cidadãos e, sobretudo, como professores devemos lutar por um
futuro audaz e brilhante. Os nossos filhos merecem. Nós merecemos e todos
juntos, unidos no mesmo laço, em prol do conhecimento, da cultura e da
verdadeira realização profissional dos filhos desta Nação, que se chama
Portugal, chegaremos mais longe.
Amo o meu País e luto pela equidade de
valores.
Berta Quental Prata, Professora, Mãe, esposa e avó
– Qual será a minha avaliação?
(04/11/2013)